quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Corpo

O mundo cai sobre minha cabeça. Sei que a ânsia de viver me oprime mais do que a ausência da morte e, por isso sucumbo suplico a minhas artérias, pois sei que aqui corre um sangue quente que aclama pela veia. O punho cortante e a mão cerrada, de tanto socar aquela parede que já é tão flácida quanto meus pés, por andar em solos maltratados, o fizeram calejar. Eis que ali (ou aqui) residiu um peito forte e empinado, na busca por um ar intragável, mas, que mesmo assim, entra pela boca e sai por qualquer outro lugar, desinfetando toda pureza que me resta, toda sanidade que ainda controla meu lado esquerdo.

E ainda por qualquer hora, hei de regressar a minha própria retaguarda, sem que precise dilatar minhas pupilas, para que permaneça gente sã e obedeça um pouco da razão restante. As feridas, as que estão dormidas, as do porvir, me estremecem as pernas e endurecem minha alma; me tenta o sangue frio.



Mergulha pelos meus ouvidos o alarde feito outrora, que me obriga escutar uma certa sinfonia deslocada no tempo, me santificando no horário nobre e me deixando uma lacuna entre as pernas. Me deixa seco. Ah! Dos cheiros que exalei, me resta a rosa de um campo perdido, àquela que busquei pra ti. Que por azar desabrocha sem que ao menos meus cílios possam enxugar minhas lágrimas novamente. E novamente toca e pulsa, o corpo, este que se enche de vazio.

Disse-me uma vez o mago de rua que aqui existe uma caixa preta. Nela me respira a alma. Por sorte é o que me resta, é o que me faz sentir os pés calejarem, é o que me faz sangrar os punhos como de outra vez. É o que me promete o frio na barriga depois da rosa dada, é o que me avisa a orquestra desritmada estando por vir, é o que me treme as pernas quando a mente não acompanha a regra. Ouviu dizer o mago também que, por anos atrás, a chamavam de coração. Mas que perdeu o sentido quando eles olharam para o próprio umbigo.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O homem da meia noite

As luzes se apagam, as pequeninas casas vão cessando aos poucos os últimos movimentos. Sons remotos são emitidos no beco. As portas se fecham. A meia noite na “rua sem saída” se aproxima. Uma mulher ainda tenta, com passadas largas,chegar a sua casa. O cachorro que estava na rua caçando cadelinhas, se põe a frente da porta de seu dono e espera o começo do novo dia. A última gargalhada se ouve em uma das casas, era o último riso do dia.

Um único poste de luz anuncia uma rua vazia e sem vida. O portão de entrada não permite mais a vinda e a ida de ninguém. Uma criança chora simbolizando o começo do sofrimento. Mas é preciso silêncio, a meia noite já está batendo em cada porta.

O relógio de uma pequena casa no fim da rua toca. Uma luz acende, a sombra do homem parece contornar o medo da rua. A porta da casa se abre. Com um chapéu, o velho caminha até o início da rua, tenta escapar, mas percebe que está sem saída. Ele grita, esbraveja e tenta suplicar pelo mundo lá fora. Ninguém responde. Com um cigarro tirado do bolso, o fumo suplica pelo fogo. Fogo! O isqueiro exclama e ele observa a luz. Queimando a sua mente perturbada de baforadas cinzentas e frias, o homem encolhe-se. A noite é quente, mas seu corpo está gelado.


O homem corre de um lado da rua até o outro a procura de uma solução para o silêncio na escuridão. Mas ele esbarra nas paredes, esta sem saída. Cada passo é um sofrimento, cada traço definido pela escuridão representa a angustia desse homem. Ele é a escuridão, carregando consigo a sinistra e obscura fonte da perdição. É noite. O homem está louco. A libído pede para ser atendida.

Agora ele treme em frente ao portão, como se implorasse por uma saída. A rua transparece na mente entorpecida do homem no escuro. Ele tenta chorar, mas não consegue. A algo familiar naquilo tudo, parece que não é a primeira vez que ele sofre daquele jeito. A noite abraça ele, o consola e então ele se senta encolhido em um canto da rua afim de receber o afago.

Uma luz ao fundo aponta. Devagar o homem se levanta tentando decifrar aquelas cores distintas no céu. Alguns pássaros começam a assobiar e cantarolar. O dia avisa que vêm. Seus tímpanos parecem anunciar que esta por vir um provável dano cerebral. O que antes era somente o próprio Eco, agora parece um peso de decibéis. Ele tenta não ouvir tapando as orelhas com as mãos que, antes geladas, agora pulsam. Uma galinha cacareja, um cachorro late e o primeiro ser da rua se levanta junto com o sol que já desponta. O homem sem entender aquela manifestação estranha, começa a se contorcer e pedir por ajuda. Ele chama a noite que não vêm, seus olhos lacrimejam e ele enfim chora. É melhor fugir. A procura da escuridão novamente, o homem corre para sua pequena casa, evita todas as luzes vindas do exterior, guarda os olhos e põe-se a dormir, a espera novamente do momento em que os ponteiros se juntam.



Heidegger chamou de fuga de si mesmo o homem entregar-se à banalidade da existência cotidiana. O retorno dessa fuga é a angústia , na qual o homem enfrenta sua maior possibilidade, que é a damorte.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Epopéia Verde

Heróico, como pede o roteiro. Dispenso neste momento as palavras em versos, a epopéia é extensa, diz-se que deve ser, pois que seja e que venha com seis graúdas bolas na rede. A camisa verde pesou hoje, o time imponente que surge quando a luta no campo o aguarda, foi impotente. Heróis aqueles que conseguiram ver a partida até o fim.

O verde predominou hoje, deu show, não teve outra cor que se sobressaísse. Talvez tenha tido, falemos então do calção preto que se balançava contra o vento e ganhava a corrida do outro. Enquanto o calção branco movimentava-se lentamente esperando que algum milagre acontecesse. O milagre aconteceu e foi do lado verde. Seis triunfos contra o santo, que hoje, já não é tão santo, deve virar escultura.

Escudo e camisa pesam menos que uma bola, a bola que rolou e rolou várias vezes de um lado para o outro num gramado comandado por “coxas” que deixaram no chão um alviverde sonolento e sem graça. Uma partida para ser esquecida e ser colocada debaixo da terra os gols sofridos e, com respeito aos mortos, aceitar o luto. Mas o verde foi heróico, sobressaiu-se sobre uma cor parecida, muitas vezes até confundida com o próprio. E qual foi a cor da bola? Pergunte ao cabisbaixo que saiu pelo gramado, que por sinal, é verde.



Não devo citar nomes de times, pois seria injustiça apontar os culpados , eu não sou cagueta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Humanidade


Não é demonstração de saúde estar ajustado a uma sociedade completamente doente”


O homem possui defeitos, possui virtudes, possui vida e possui um planeta. Seres bons ou seres maus? O que realmente importa no estado atual? O mundo foi criado, a sociedade moldou-se de uma forma arrogante, pré potente e individualista. O homem olha a sua volta, observando todo o sistema corrompido pelo mesmo, para e percebe que isso, de alguma forma, está errado. A coisa extrapolou o limite de não termos mais o poder de pensar e reagir para que isso tudo tenha uma solução. Não nos deixam agir como homens.

Os culpados são incauculáveis, quiça intocáveis. O comando das corporações é intenso e covarde na disputa por apenas um único objetivo: o lucro. Eles não se importam com o que você pensa, com que você faz, eles não fazem algo melhor pelo mundo, eles não sentem como você sente, eles apenas possuem vícios, vícios bem piores do que aqueles que você possui; Um vício pelo poder e pela vontade incessante de obter mais e mais dinheiro a custa do seu trabalho que é totalmente voltado para pagar a sua vida, aquilo de mais belo que se tem, para você poder sorrir falsamente para seus filhos e dizer que tudo esta bem. Mas, filho, saiba logo desde criancinha, a coisa não está boa.



É um discurso repetitivo? Talvez seja.Talvez devamos aceitar tudo aquilo que é proposto pelo sistema sem ao menos expressar uma opinião contrária. Vivemos num mundo onde não temos como mudar, não por enquanto. Mas quando a democracia e sociedade livre são apenas um nome para uma fachada teatral, se começa a pensar. Calma aí! Será também que o que se aprende na Escola é o correto? O que é democracia? Isso existe? Será que os professores mostram o real funcionamento deste planeta regido por deuses de paletós? A preocupação intensa em colocar estas pequenas mentes alienadas logo no mercado de trabalho atrapalha qualquer sistema educacional. A preocupação de formar um homem acaba logo quando a família coloca seu filho pra viver conforme o mercado exige. O mercado que gera o lucro, não meu e nem seu. Dos caras.

O controle destes caras é muito maior e atinge o mundo todo de forma impune, avassaladora e sem consentimento. Vemos hoje o mundo comemorar a morte de um suposto terrorista, termo este inventado para jogadas estratégicas de líderes que formam seus impérios em diferentes áreas do mundo para combater, claro, o “terrorismo”. O que existe não é o terrorismo, o que existe são coisas ditas através da mídia e pessoas que aceitam qualquer informação que é veiculada. Mídia esta que é controlada por quem joga as cartas e dá as ordens para o mundo soltar fogos e achar que o mal foi vencido. Só que o mal ainda está aqui.

Se o mal não existisse, pessoas não passariam fome, se o mal não existisse tantas pessoas teriam moradias e educação. Pois então, o mal existe e ele dita as regras. O que nos passa por entre as mãos e nos escorrega pelos dedos é a essência do ser humano, o homem como um ser, uma sociedade que pulse como UMA só. Precisamos entender que viemos do mesmo caráter evolutivo e somos de uma espécie idêntica. A disputa, a vontade de ser melhor, de julgar, de nos afastar através de classificações pré definidas criadas pelo homem modelado por uma sociedade caótica.

Nós somos iguais.



Pense no mundo e no homem. Esta relação envolve a vida, o seu valor e a verdade, a crença no homem. A vida que deve ser contemplada, revigorada a cada dia e compreendida através de um valor imensurável onde o homem não subjugue, mas sim fortaleça o seu sentido. E que isto tudo deve manter-se como a mais pura verdade num sistema social unido. A verdade que não deve ser confundida com os noticiários, a verdade existente dentro do homem.

Para que isso aconteça, algo deve ser alterado no pensamento das pessoas. O homem se aceitar como homem, as pessoas perceberem o real sentido de estarmos sendo carregados por ossos, carne, cérebro e um coração. Mas isso é quase uma “autoflagelação”. Cada indivíduo consigo mesmo, deve desconstruir tudo que foi erguido durante um século de hipocrisias, impérios encobertos, mortes sem sentido e de um poder egoísta. É dessa forma que o homem deve enxergar o mundo que, sinceramente, por mais utópico que pareça, podemos sonhar que um dia tudo isto acabará. O sistema um dia falha e esse dia à de chegar.

Como perguntou uma vez o tocador de gaita lá pelos anos mil novessesentos e alguma coisa: “Quantas estradas precisará o homem andar para ser chamado de homem?”

PS: Espero agora poder voltar escrever constantemente neste espaço, agradar e desagradar a todos que por aqui já passam e leram minhas baboseiras, e aos que agora chegaram, bem vindo ao lixo.


sábado, 3 de julho de 2010

Imprensa, Dunga e eliminação

Mais uma vez, caímos diante de um grande nas quartas de final, mais uma vez na hora o quebra-pau, não soubemos nos controlar e mostrar porque somos brasileiros mas, diferente da última vez, tenho certeza que a maioria dos brasileiros tinham confiança nesse time, o que o time de 2006 não inspirava. E por não inspirar confiança é que a imprensa brasileira pedia um time mais focado, um grupo, um trabalho a longo prazo e um técnico que botasse ordem na casa. Talvez a CBF tenha exagerado colocando o homem mais durão de todos para trabalhar a frente da seleção. E ele, lembrando de todas as exigências de 2006, odiava receber críticas, fazia cara feia quando questionado, porque durante um período de quase 4 anos, ele trouxe resultados, fez da seleção um time organizado e com jogadores que tinham objetivos traçados.

Dunga foi o cara por três anos, fez coisas que o Brasil não tinha feito com time melhores. Ganhou da Argentina lá no país do Tango e derrotou o Uruguai no Centenário. E vem a Copa do Mundo. Ele não chama o elegante Ganso e leva o bruto Julio Batista, a imprensa chia, eu chiei aqui mesmo no Blog, mas Dunga não quer cometer os mesmos erros de 2006 e vai ao Mundial com um grupo coeso e criado desde o final de 2006.
Quartas de finais, Brasil contra a poderosa Holanda. Brasil dá show no primeiro tempo, domina a Holanda e dá um banho de organização em campo. Segundo tempo, Holanda volta melhor, normal, precisa do resultado e acha, eu disse acha um primeiro gol. Até ali não tinha feito nada.

Numa desatenção que acontece com qualquer time, faz o segundo numa jogada ensaiada de escanteio. Brasil tinha condições de virar, totais condições, mas aí entra de novo a questão do homem de confiança, do time coeso, do grupo focado e blá, blá, blá. Felipe Melo era o homem que poderia fazer a diferença, pelo seu anti heroísmo e por seguir a risca de um trailer já cantado a dias antes da Copa do Mundo. A partir daí, faltou o Ganso, faltou o Neymar, o Gaúcho, faltou toda a alegria que o futebol brasileiro precisa pra tentar superar o desfalque de um jogador que a três meses antes da Copa, tinha se encaixado perfeitamente no time.

Aí, é bom pra quem é da imprensa. Notícia quente, informação que interessa ao telespectador e comentários que deteriorizam o treinador e o Felipe Melo. Nessa hora é fácil, criticar e meter o pau, mas aí é preciso rever algumas coisas trazidas pela imprensa nesses últimos 3 meses. Ninguém reclamava da falta do Ganso e do Neymar, ninguém achava o Felipe um problema e ninguém achava o Dunga um burro antes da Copa.
Parece que a imprensa de hoje prepara um palco com refletores, com um cenário estupendo e personagens que vão de vilões a mocinhos e vice e versa. Eles pediram em 2006, foi dado em 2006, em 2010 criticaram novamente antes da Copa , preparam todo o teatro e aí, chance ótima para a imprensa poder meter o pau onde dessa vez não vi tanto problema. Vi mais brasileiro triste, vi brasileiro que disse que conteve as lágrimas, vimos a tensão, a emoção. E isso É COPA! Diferente de 2006 - que quando acabou todo mundo queria esganar o Gaúcho e as outras estrelas por não terem feito NADA durante a Copa toda - o time que perdeu merecia mais.

Eu vi uma seleção que vocês e todos vocês pediram no dia 1o de julho de 2006 após a eliminação contra a França, eu vi um time aguerrido sem pernas no final do jogo do dia 2 de julho de 2010. Eu vi um time que batalhou e vi uma Holanda sem graça, só com nomes, ganhar de uma seleção que podia sonhar mais alto. Felipe é culpado? Michel é culpado? Baptista é culpado? Vocês que pediram po, vocês que pediram. E agora a imprensa quer um time que jogue o que o brasileiro sabe jogar, com alegria e brilho. Voltemos a 2006.

Vamos rever nossos conceitos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Caras "borradas"

Movimento de estudantes, aspirantes a revolucionários, detectores dos problemas do mesossistema, expansionistas de ideologias dissidentes e muito mais. Eu não me meto, nem quero me meter, mas vai aqui uma breve experiência de quem já viu e já ouviu. Política é um saco, queira ou não queira, tudo envolve política, mas a política em si envolve mais merda do que tudo. Sinto-me cansado só de ver. E por quê? Não é de hoje e nem de ontem que os conceitos são deturpados de maneira ingênua por alguns e retroalimentados por cabeças experientes que detêm nas mãos o controle do rebanho.



“Poxa cara, mas o movimento é bacana, eu admiro quem tem essa vontade e tal”. A iniciativa realmente é legal, mas é aí que entra os “poréns”, quer dizer, o “porém”. Na verdade, é que tudo se baseia na iniciativa política que no final das contas, aquele cara lá, está é defendendo o seu espaço. Espaço este conquistado após milhares de discursos sugadores de mentes fracas e cabeças pseudo-pensanates.



O trampolim é perfeito, mas o salto é perigoso e às vezes quebra-se a cara. A moral do movimento estudantil no Brasil hoje é mínima justamente por fatores como esses. Não existe uma organização fiel, existe o superego, existe sempre uma sigla por trás e o resto é conversa. O sentimento envolvido deveria ser diferente. Mas aí, do meu lado esquerdo vejo palhaços, do meu lado direito comediantes. É engraçado.